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Escrever para me inspirar

Sabia que esse dia chegaria, mas não pensei que seria tão rápido…

O dia em que olharia para o Word, em branco, prontinho para ser preenchido e desenhado com palavras que expressam pensamentos, sentimentos e reflexões e nada viria.

Sim, eu sabia e não temia. Não o esperava, nem o repudiava, apenas sabia que este dia chegaria.

E cá estou, sem nem uma “inspiraçãozinha” para escrever um texto com dicas de Mudança, ou alguma sacada que tive no último curso que fiz, sobre paixão, missão ou propósito. Nada, nadica de nada.

A semana foi bem corrida, a vida anda bem “aberradinha” e entre a viagem prô no Rio de Janeiro, atendimentos de Gestão de Mudança de Vida, prospecção em Atibaia, celebração de cerimônia de casamento em Peruíbe, Mentoring em São Paulo e atendendo uma cliente que está até em Londres, a vida tem se permeado com muita reflexão, amizade e família.

E são tantos assuntos, tanta coisa a ser dita, tantos comentários e troca de experiências que renderiam um livro, mas agora me ponho a pensar: sobre o que escrever hoje?

Ontem, dia que costumo deixar o texto de terça pronto eu me rendi ao cansaço… após ficar 2h40 no tráfego parado da Marginal Pinheiros, aqui em São Paulo, debaixo de uma garoa fininha, eu não dei conta de escrever.

Quem me conhece sabe que o caos do tráfego de São Paulo, que pouco tem de trânsito e muito tem de parado, não me tira do sério ou me deixa irritada.

Uso o tempo para pensar, ouvir música, podcasts, treinamentos online, audiobooks ou colocar em dia os programas do NBJR, programa de rock do meu amigo e locutor do Podcast da Alê, Maurício Macri, mas ontem fui vencida pelo frio, cansaço e pela ambiguidade dos acontecimentos.

Faço Mentoring de Change Management na Av. Luiz Carlos Berrini e ontem a violência resolveu dar as caras na hora do almoço e um homem não voltou para o jantar.

Escrevo para me inspirarA violência quando chega assim tão perto me lembra muito da fragilidade da vida.

Mas a vida também pulsa, aumenta e melhora. Um querido casal de amigos recebeu um novo ser lindo ontem, nasceu a primeira filha deles e eu no meio da Berrini, movimentada avenida, que na hora do almoço foi palco de ausência de vida, recebia meu choro emocionado pelo nascimento de uma criança muito desejada e querida.

Acredito que meu cansaço nesse momento aumentou, pois a dicotomia era tamanha e nessa impermanência que é a vida, puxa, às vezes me sinto numa montanha russa.

Tudo isso me ajudou a passar as duas horas e meia, entre primeira, segunda, ponto morto, a ver como a morte, a vida, a ausência, o presente, a expectativa e os mergulhos que damos para dentro de nós mesmos são apenas reflexões, pontos de vista que damos de interpretações do que nos acontece.

E tá tudo bem!!

Ressignificar é verbo de ordem por aqui, no meu trabalho, no meu falar e no meu viver, mas ontem, ressignificar cedeu lugar a me permitir.

Chegar em casa, tomar canjinha quentinha feita pela minha mãe, sentar ao lado do meu pai, assistir um tanto de novela e jornal com eles e simplesmente não pensar em escrever, pois a inspiração cedera lugar apenas à gratidão de estar viva, quentinha, em família e ter chegado para o jantar.

Me rendi ao cansaço e apaguei.

E agora olho para aquele papel em branco e vejo que, te contando que não sabia o que escrever hoje, ele aos poucos foi se tingindo, sem a obrigação de escrever, pois escrever para mim é terapia, é ofício, é respiro.

Escrevo para me inspirar e não me inspiro para escrever…

Mas falar de mudança ficou em segundo plano, pois diante dessa impermanência, da fragilidade da vida, dos acontecimentos de nascer e chorar, engatar e frear, as palavras do meu escrever são pequenas.

Diante da impermanência da vida, nem preciso falar de mudança, pois hoje ela se faz presente, aqui, na minha cama e não na minha mesa, no pijama que já estou vestindo tão cedo (21h34) e nessa minha vontade de construir um mundo mais seguro, mais justo, mais respeitoso, mais fraterno e mais em paz para a Kiara, filha dos meus amigos Eli e Kleber poder viver e ser feliz.

E que na Berrini só tenha o meu choro, de emoção pela vida e não de lamento pela ausência dela.

Bora lá fazer dessa vida algo que valha a pena.